quarta-feira, 21 de novembro de 2012


"... as horas que deslizam por cima de nós
e caem em silêncio na eternidade das horas que se vão...”

Escolho uma música bonita, aciono o aleatório, deixo tocar e fico em silêncio, calo até os pensamentos, para ouvir o que a vida tem a dizer. Tem vezes que a gente fala com a vida, tem horas que é ela quem diz. Aposento a caneta e as folhas em branco que me convidam a escrever e fico quieta, parada no meu lugar te observando chegar. Não falo nada para não atrapalhar, não invento rimas para não te obrigar a rimar comigo, não uso verbos para não forçar uma ação. Somos só eu e você e nosso silêncio e todas essas coisas acontecendo ao nosso redor, através e apesar de nós. Somos só eu, você, e essa calma. A calma de ter um monte de coisas a dizer, mas não ter pressa nenhuma para contar. A calma que vem desse teu sorriso, que não me apressa, só me abriga e me diz que tudo bem, tudo bem não saber o que dizer, tudo bem não conseguir traduzir, definir, enquadrar o que se sente em algum padrão qualquer. Sem nomear emoções, sem estipular prazos, sem prever. Só o ir-em-frente da vida, só ela se revelando aos poucos, só a gente de olhar curioso descobrindo o que é que ela tem a dizer. 
E então ela diz, enquanto você brinca com minha mão e meus medos dançam balé dentro de mim, e eu estendo uma rede no seu sorriso e descanso ali. E a vida canta para mim, mostra de onde vem essa calma, e assina com o teu jeito bobo de olhar que me faz sorrir e dizer que vai-dar-tudo-certo-eu-posso-descansar-aqui. Faz de conta que o tempo não existe, que não existe a pressa, que lá fora não tem ninguém. Deixa essa calma permanecer, deixa eu descansar em você e não ter pressa para sair do teu ombro. Deixa o depois para mais tarde, deixa o inverno, deixa tudo-o-que-pode-dar-errado para depois do café. Se o depois não chegar é culpa nossa, se ele chegar também é. Culpados por culpados, vamos ao menos aproveitar. Aproveitar que a gente se esbarrou pela vida, aproveitar o esbarrão. A gente começa assim: com um esbarrão. Não como se fôssemos duas pessoas atrasadas indo em direção contrária por um corredor lotado, mas como dois caminhos que de repente se esbarram numa esquina ou dois estranhos que se esbarram nessa mesma esquina onde os caminhos se cruzam e um pergunta como quem não quer nada "para onde é que você vai?" e o outro diz "para o mesmo lugar que você". E eles vão sem pressa, em direção à calma que só o outro traz. A verdadeira calma vem daí: de saber que há alguém do seu lado e que ele não se importa com os vendavais. De saber que se houver vendaval, tem um sorriso que acalma. Se houver medo, tem um abraço que cala. Se houver solidão, tem um olhar que acolhe. 

Não dá para explicar e tira as palavras, mas não é guerra, é paz. É calma. É sorrir concordando quando o aleatório toca e diz-me que tá tudo bem. Está. O coração acalmou, você chegou, a vida sorriu. Deixa assim como está, sereno.

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